terça-feira, 2 de janeiro de 2018

O êxodo Nascimento de Uma Nação

A hіѕtórіа dе Iѕrаеl nãо роdе ѕеr соnѕtruídа ѕеguіndо-ѕе аѕ lіnhаѕ dоѕ еѕtudоѕ hіѕtórісоѕ normais, роіѕ bаѕеіа-ѕе еm dосumеntоѕ (o Antіgо Tеѕtаmеntо) que nãо ѕãо tão-somente hіѕtórісоѕ еm ѕеu саrátеr. O Antіgо Testamento é, асіmа de tudо, tеоlógісо, e não lіtеrаturа meramente hіѕtórіса.
Iѕtо ѕіgnіfіса que será nесеѕѕárіо аbоrdаgеnѕ tеоlógісаѕ e nãо históricas раrа conduzir ao propósito fundаmеntаl dа mеnѕаgеm a ѕеr dіѕсеrnіdа. Aо соntrárіо dо ԛuе afirmam muіtоѕ еѕtudоѕ contemporâneos, apenas роrԛuе o Antіgо Testamento é por definição “história ѕаgrаdа”, não ѕіgnіfіса ԛuе lhе falte аutеntісіdаdе hіѕtórіса, соmо аlgunѕ асrеdіtаm. Cоm еfеіtо, ele é o rеgіѕtrо da aliança dе Dеuѕ соm seu povo еѕсоlhіdо.
O significado do êxodo.
O êxodo é o evento teológico e histórico mais expressivo do Antigo Testamento, porque mostra a magnificente ação de Deus em favor de seu povo, uma ação que os conduziu da escravidão à liberdade, da fragmentação à unidade, de um povo com uma promessa – os hebreus – à uma nação estabelecida – Israel. No livro de Gênesis encontram-se a introdução e o propósito, seguindo-se então todas as revelações subsequentes do Antigo Testamento. Um registro que é ao mesmo tempo um comentário inspirado e uma exposição detalhada. Em última análise, o êxodo serve como um tipo do êxodo promovido por Jesus Cristo, de forma que ele se torna um evento significativo tanto para a Igreja quanto para Israel.

A localização histórica do êxodo O novo reino egípcio

Segundo 1 Reis 6.1, o êxodo aconteceu cerca de 480 anos antes da fundação
do templo de Salomão. De fato, Salomão deu início à construção em seu quarto ano, ou seja, em 966 a.C., de forma que, de acordo com uma hermenêutica normal e uma aproximação séria dos dados cronológicos bíblicos, o êxodo ocorreu em 1446 a.C. Antes de apresentarmos argumentos detalhados em favor de tal data, vamos por enquanto nos deter na décima oitava dinastia do Egito que, de acordo com a data tradicional, forma o quadro da época em que o êxodo aconteceu.
Como apontado no capítulo 1, a décima oitava dinastia foi fundada por Amósis, o responsável pela expulsão dos hicsos. E bem provável ter sido ele o que está descrito em Êxodo como o novo rei que não conhecia José (Êx 1.8).2 Isto não sugere que ele não tenha conhecido José pessoalmente, mas apenas que sua benevolência não mais se estendia aos descendentes de José – os hebreus. Ele havia, afinal, expulsado os hicsos, um povo bastante aparentado aos hebreus, e pode ter ficado receoso de que a rápida multiplicação destes pudesse se constituir numa séria ameaça ao seu recente governo e autoridade.
Ele ou seu sucessor, Amenotepe I (1546 – 1526), foi o responsável pela política repressiva que se seguiu naqueles dias. Isto incluía a redução dos hebreus à escravidão com trabalhos forçados em projetos de construções públicas (Êx 1.11-14),3 um plano que foi igualmente implementado por Amósis. Quando tal projeto fracassou, seguiu-se um decreto promulgando o genocídio de todos os machos hebreus que nascessem (Êx 1.15,16).
Esse decreto pode ter sido emitido por Amenotepe ou, o que é mais provável, por Tutmose I, de acordo com a reconstrução histórica promovida neste trabalho.
Admitindo a data de 1446 a.C. para o êxodo, podemos determinar a data do nascimento de Moisés, um fato de elevada importância nesta conjuntura. O Antigo Testamento informa que Moisés tinha a idade de 80 anos pouco antes do êxodo (Êx 7.7), e 120 anos na sua morte (Dt 34.7).4 Visto que sua morte ocorreu bem no fim do período do deserto, podemos datá-la em 1406. Um simples cálculo então fornece o ano 1526 para o seu nascimento. Por conseguinte, Moisés nasceu no mesmo ano da morte do faraó Amenotepe.
E preciso enfatizar que não se pode esperar uma absoluta precisão, mas nossas datas para a cronologia do Novo Reinado, assim como todas as datas que usamos, são as mesmas utilizadas pelo Cambridge Ancient History, uma publicação lançada por estudiosos imparciais, reconhecidos academicamente como autoridades da mais alta confiabilidade.5 Quaisquer ajustes nas datas que aumentem ou diminuam alguns anos em nada afetarão as conclusões aqui propostas.
Amenotepe foi sucedido por Tutmose I (1526-1512), um plebeu que tinha se casado com a irmã do rei. Provavelmente foi ele o autor do decreto que ordenou o infanticídio, pois enquanto Moisés estava em iminente perigo de morrer, Arão, que havia nascido três anos antes (Êx 7.7), parece ter estado isento. Não seria difícil admitir que o faraó que promulgou essa política deve ter subido ao trono após o nascimento de Arão e antes do nascimento de Moisés. Nesse caso, a evidência bíblica aponta diretamente para Tutmose I.
Tutmose II (1512-1504) casou-se com Hatchepsute, sua meia-irmã mais velha. Ele morreu jovem sob circunstâncias bastante misteriosas. Sentindo que se aproximava da morte, ordenou a nomeação de Tutmose III (1504- 1550) como seu co-regente e herdeiro. Esse governante que, sem dúvida, foi o mais ilustre e poderoso dentre os que viveram no Novo Reino, distinguiu-se de várias maneiras.
Seus primeiros anos não foram muito promissores – era filho de uma concubina e tinha se casado com sua meia-irmã, filha de Hatchepsute e Tutmose II – mas por fim veio a obter notáveis vitórias nas terras ao seu redor, que incluíram nada menos que 16 campanhas à Palestina. Porém, os primeiros 20 anos de seu reino foram dominados por sua poderosa madrasta, Hatchepsute.
Embora proibida pela cultura de se tornar faraó, ela de fato agia como tal e, em todos os critérios, pode ser considerada a pessoa de maior fascínio e influência da história egípcia. Sem dúvida, nos primeiros anos de Tutmose III, foi Hatchepsute quem ditou as resoluções, um relacionamento que decerto ele detestava, mas encontrava-se impotente para se opor. Somente após a morte da madrasta, Tutmose III demonstrou toda repugnância que sentia por ela, mandando extinguir toda e quaisquer inscrições ou monumentos em sua homenagem.
O quadro geral de Hatchepsute leva-nos a identificá-la como a ousada filha do Faraó que resgatou Moisés. Somente ela dentre todas as demais mulheres de sua época seria capaz de ir contra uma ordem do Faraó, bem diante dele. Embora a data de seu nascimento seja desconhecida, ela provavelmente era vários anos mais velha do que seu marido, Tutmose II, que morrera em 1504, bem próximo de seus 30 anos. Ela devia estar no início de sua adolescência, por volta de 1526, data do nascimento de Moisés e, portanto, com condições de agir em favor de sua libertação.
O quadro geral de Hatchepsute leva-nos a identificá-la como a ousada filha do Faraó que resgatou Moisés. Somente ela dentre todas as demais mulheres de sua época seria capaz de ir contra uma ordem do Faraó, bem diante dele. Embora a data de seu nascimento seja desconhecida, ela provavelmente era vários anos mais velha do que seu marido, Tutmose II, que morrera em 1504, bem próximo de seus 30 anos.7 Ela devia estar no início de sua adolescência, por volta de 1526, data do nascimento de Moisés e, portanto, com condições de agir em favor de sua libertação.
O fato de ter o próprio faraó considerado a questão – que, em outra situação, seria pouco relevante – sugere que este faraó especificamente tinha interesses pessoais em se livrar de Moisés. O exílio auto-imposto por Moisés ocorreu em 1486, quando ele tinha 40 anos de idade (At 7.23). Tutmose III já estava no poder havia 18 anos; e a idosa Hatchepsute, que faleceria três anos mais tarde, não tinha mais condições de interditar a vontade de seu enteado/sobrinho.
Durante longos quarenta anos, Moisés permaneceu fugitivo do Egito, tendo se abrigado entre os midianitàs do Sinai e da Arábia. Uma das razões para tão longo exílio foi justamente o fato de continuar a viver e reinar o Faraó de quem Moisés havia escapado. Somente após sua morte, Moisés sentiu-se livre para retornar ao Egito (Êx 2.23; 4.19). Tutmose I I I ‘ morreu em 1450 e foi sucedido por seu filho Amenotepe II (1450-1425). Segundo os padrões cronológicos aceitáveis nesta discussão, era este Amenotepe quem reinava na ocasião do êxodo.
Antes de deixarmos Tutmose III, é essencial notarmos que o relato bíblico requer um reinado de quase 40 anos para o Faraó que perseguiu a vida de Moisés, porquanto o rei que morreu no fim dos anos do exílio de Moisés em Midiã era claramente o mesmo que o havia ameaçado quase 40 anos antes.
Dentre todos os reis da 18a Dinastia, somente Tutmose III teve um reino tão longo. De fato, ele é o único governante que, em todo período durante o qual o êxodo poderia ter ocorrido, reinou tanto tempo – com exceção de Ramsés II (1304-1236). Mas Ramsés, o faraó preferido pela maioria dos estudiosos, é geralmente associado ao faraó do êxodo, não ao faraó cuja morte possibilitou o retorno de Moisés ao Egito. Caso a morte de Ramsés houvesse trazido Moisés de volta ao Egito, o êxodo deveria ter ocorrido após 1236, uma data muito tarde para ser satisfatória.

O Faraó do êxodo

Quando finalmente Moisés retornou ao Egito, ele e seu irmão Arão começaram a negociar com o novo rei, Amenotepe II, a respeito de uma permissão para Israel deixar o Egito com o propósito de adorar a Jeová e, enfim, deixar o país definitivamente. Este poderoso rei conduziu uma campanha em Canaã em seu terceiro ano (aprox. 1450) e uma outra em seu sétimo ano, provavelmente em 1446,11 coincidindo com a tradicional data do êxodo.
Não é difícil imaginar que a dizimação do exército de Faraó no mar de Juncos pode ter ocorrido após essa sétima campanha e que, após tamanha desmoralização, um total desinteresse por uma aventura imediata se abateu sobre o reino, especialmente para o norte.
Nossa identificação de Amenotepe II como o faraó do êxodo está baseada em duas outras considerações. Em primeiro lugar, embora a maioria dos reis da 18a Dinastia tenha estabelecido sua principal residência em Tebas, bem ao sul dos israelitas no Delta, Amenotepe morava em Mênfis e, aparentemente, reinou daquele local por um bom tempo.
Isto o colocava em grande proximidade com a terra de Gósen, fazendo-o bastante acessível a Moisés e Arão. Em segundo lugar, evidências sugerem que o governo de Amenotepe não passou para seu filho mais velho, mas para o caçula Tutmose IV. Esta é uma informação subentendida na chamada “esteia do sonho”, que foi encontrada na base da Grande Esfinge perto de Mênfis.
O texto, que registra um sonho no qual Tutmose IV recebeu a promessa de que um dia viria a ser rei, sugere, como diz um historiador, que o seu reino sucedeu “mediante uma imprevista mudança no destino, como a morte prematura do irmão mais velho”. E claro que isto é praticamente impossível de se provar, mas também não há como deixar de especular se tal morte prematura não tenha ocorrido por intermédio do juízo de Jeová que, na décima praga, matou todos os primogênitos do Egito que estavam sem a proteção do sangue da Páscoa, “…desde o primogênito de Faraó, que se sentava em seu trono, até o primogênito do cativo que estava no cárcere…” (Êx 12.29).

As dez pragas

Antes de continuarmos a integração entre a história da 18a Dinastia e a narrativa do êxodo, é preciso atentar para o relato do retorno de Moisés ao Egito, das dez pragas, e do evento do êxodo propriamente dito. Moisés havia fugido do Egito na idade de 40 anos (1486), e encontrou um santuário na terra de Midiã (Êx 2.15). Os midianitas, descendentes de Abraão através de Quetura (Gn 25.2), moravam na península arábica, provavelmente ao leste da península do Sinai, passando pelo Golfo de Acaba.
Moisés conheceu um sacerdote midianita chamado Jetro (ou Reuel), que claramente se tornou adorador de Jeová (Êx 18.11).Moisés então se casou com uma das filhas de Jetro, Zípora, com quem teve dois filhos, Gerson e Eliezer (Êx 18.3,4). Próximo ao quadragésimo ano em que Moisés habitava na terra de Midiã, Jeová lhe apareceu no monte Sinai em uma sarça ardente, identificando-se como o Deus de Abraão, Isaque e Jacó.
Ele disse a Moisés que havia chegado o tempo em que o povo de Israel partiria da terra da escravidão e possuiria Canaã, a terra da promessa. A Moisés coube o privilégio e a responsabilidade de conduzi-los para fora do Egito.
Provavelmente poucos meses após esta revelação, Moisés e Arão se encontraram com faraó que, ao que tudo indica, era Amenotepe II. A princípio, eles solicitaram permissão para conduzir o povo ao deserto a fim de adorar a Jeová; este pedido não apenas foi negado, como também produziu uma intensificação dos trabalhos forçados sobre Israel.
Nesta situação, os israelitas imediatamente passaram a questionar a autoridade de Moisés, o qual tornou a Jeová para uma confirmação de sua chamada. Mais uma vez, Jeová garantiu resgatar o seu povo (Êx 6.6), para torná-lo, mediante uma aliança, o seu povo especial (v. 7), fazendo-o chegar em segurança à terra uma vez prometida a seus pais (v. 8). Seguiu-se então uma seqüência de entrevistas com Faraó, e todas falharam em obter permissão para adorar no deserto.
Certamente o faraó sabia que a intenção não era simplesmente fazer uma romaria ao deserto para adoração, mas sim partir totalmente do Egito, para nunca mais lá voltar. Para provar a sua autoridade, Moisés operou sinais e maravilhas na presença de Faraó. O primeiro sinal envolveu a vara de Arão, que se tornou em uma serpente e, em seguida, devorou as serpentes produzidas pelos mágicos do Egito.
As dez pragas que se seguiram foram todas de caráter judicial – abatiam-se sobre o Egito após cada recusa do Faraó em permitir a partida de Israel. A última dessas pragas foi a morte dos primogênitos, que atingiu até mesmo a própria família do Faraó.
É impossível compreender exatamente o que ocorreu por ocasião de cada praga, visto que as fontes egípcias – naturalmente – não atestam nada a respeito. Contudo, é evidente que cada uma das pragas causou uma aberração na natureza, uma anomalia que afetou o tempo, os animais, as águas, ou algo similar.
Além disso, elas pareciam conter um polêmico desígnio. Cada praga era uma afirmação da superioridade de Jeová sobre a divindade (ou deuses) responsável pela área da natureza que estava sendo particularmente atingida.
Os céticos consideram as pragas como um relato bastante exagerado de fenômenos naturais perfeitamente compreensíveis, ainda que incomuns. Porém, uma séria avaliação da narrativa não permite tão arrogante descaso com as dimensões catastróficas das pragas.
É preciso entender o que elas eram autênticos derramamentos da ira de um soberano Deus que desejou mostrar, para todo o Egito e também para o seu povo, que Ele é o Senhor de toda terra e céu, o único perfeitamente capaz de resgatar o seu povo da penosa escravidão no Egito, fazendo com eles uma aliança, tomando-os seus servos.
Quando sobreveio a última praga, havendo Jeová destruído toda autoconfiança humana, Faraó rendeu-se e permitiu que Moisés e seu povo partissem (Êx 12.31,32). Porém, quando os hebreus realmente saíram, Faraó voltou atrás e se encarregou de persegui-los. Abateu-se sobre o rei o pesar de ter deixado sair do Egito sua maior força de trabalho, aquela com a qual ele poderia realizar seus ambiciosos projetos públicos.
Aquela altura, entretanto, os quase dois milhões de israelitas já haviam deixado a cidade de Ramsés (i.e., Gósen; Gn 47.6,11) e chegado a Sucote, bem a oeste do lago Timsa. Seguiram de lá em direção norte, tentando evidentemente penetrar em Canaã através da grande via costeira ao mar Mediterrâneo. Eles sabiam por certo que encontrariam os filisteus caso continuassem naquela rota, de sorte que Jeová os guiou para o sul, após terem cruzado, é claro, o mar de Juncos.
O ponto exato onde Israel cruzou o mar de Juncos não pode ser determinado, mas certamente não era o mar Vermelho, o que chamamos hoje de Golfo de Suez. Este local estava muito ao sul para se encaixar no itinerário bíblico. Além disso, o termo hebraico para descrever a passagem pelas águas, yam süp (“mar de juncos”), é totalmente impróprio para o mar Vermelho.
A tradução da palavra “mar Vermelho”, vista em muitas versões inglesas, está baseada na Septuaginta, que por certo assumiu ser o mar de Juncos um nome antigo para mar Vermelho. O registro de Moisés declara que Israel estava em um local próximo a Pi-Hairote (localização desconhecida), entre Migdol (também desconhecido) e o mar.
Mais especificamente, Israel encontrava-se “diante de Baal-Zefom” (Êx 14.2), local hoje identificado como Tel Dafanneh, ao ocidente do Lago Menzalé, uma bacia a sudeste do mar Mediterrâneo. As evidências hoje sugerem que esse é o mar de Juncos pelo qual Israel passou. Embora saibamos que o local tenha sofrido muitas dragagens para a construção e manutenção do Canal de Suez, o lago Menzalé sempre foi fundo o suficiente para impedir a passagem a pé sob quaisquer circunstâncias.
A passagem de Israel pelo mar, que antecedeu o afogamento dos exércitos e carruagens egípcias, não pode ser explicada como uma “travessia de um pântano”. Foi preciso a poderosa ação de Deus, uma ação tão expressiva em sua extensão e significado que, a partir daquele momento, na história de Israel, ela seria para sempre um paradigma por meio do qual os atos salvíficos e redentores de Deus seriam evocados.
Se não existiu um milagre real nas proporções aqui descritas, todas as demais referências ao êxodo como o arquétipo do poder soberano e salvífico da graça de Deus tornam-se vazias e sem significação real.

A data do êxodo

Antes de narrarmos a viagem de Israel pelo deserto, é necessário examinarmos uma questão crucial: a data do êxodo. A questão é fundamental não apenas porque o êxodo é em si um evento central histórico e teológico, mas também porque nossa interpretação da história antecedente e subseqüente a este acontecimento será sensivelmente afetada pela data fixada.
[Evidência bíblica interna]
Ano de 1446 já foi proposto como a data do êxodo. Sobre esta base cronológica desenvolvemos nossa discussão a respeito dos reis hicsos, do Novo Império, e das narrativas de José. Visto que a integridade de nossa posição depende exclusivamente de uma data mais anterior, em vez de uma outra mais recente que tem sido defendida pela maioria dos estudiosos, torna-se então vital que apresentemos uma defesa contundente em favor da data mais antiga.
Há duas datas bíblicas principais que tocam diretamente a questão do êxodo. A primeira delas se encontra em 1 Reis 6.1, onde está escrito que o êxodo precedeu a fundação do Templo de Salomão em 480 anos. Levando em consideração por enquanto que Salomão deu início à construção do templo em 966, podemos concluir que o êxodo aconteceu em 1446. Mas, por uma série de razões, essa data é quase universalmente rejeitada em favor de uma data mais recente, mais ou menos por volta do século XIII (1260).
Para conciliar o fato a uma data mais recente, a cifra 480 não deve ser considerada literalmente, mas deve ser vista como uma forma misteriosa de descrever 12 gerações (sendo quarenta anos, como dizem, uma geração ideal). Entretanto, visto que uma geração na verdade está mais perto dos 25 anos, o período entre o êxodo e as obras iniciais do templo é estimado em 300 (25 X 12) anos, o que sugere aproximadamente o ano 1266 para o êxodo. Se fosse possível comprovar que a antiga cronologia israelita (ou qualquer outra) assim fazia os cálculos, e que 1 Reis 6.1 é um exemplo da aplicação de tal método, o caso pareceria estar solucionado.
Infelizmente não há provas. A inevitável conclusão é que uma redução de 480 para 300 anos, a fim de satisfazer algumas conclusões subjetivas, torna- se um exemplo de apelação indigno de qualquer historiador ou estudioso da Bíblia. Certamente o ônus da prova recairá sobre os críticos que preferirem considerar os dados dos historiadores bíblicos de forma não literal.
A segunda prova em defesa do ano 1446 aparece em uma mensagem do juiz Jefté aos seus inimigos amonitas. Jefté afirmou não ter eles razão para qualquer hostilidade contra Israel, uma vez que durante os 300 anos após a vitória de Israel sobre Seom, os amonitas nunca haviam contestado os direitos de Israel sobre a Transjordânia.
Uma simples leitura desse longo memorando (Jz 11.15-27) deixa claro que Jefté se referia ao período da história de Israel pouco antes da conquista, que ocorreu cerca de 40 anos após o êxodo. A vitória de Israel sobre os amonitas ocorreu por volta de 1100 a.C., uma data largamente reconhecida. Neste caso, Jefté se referia a acontecimentos que haviam ocorrido perto de 1400 a.C.
Está claro que o número 300 não pode representar gerações ideais, com resultados satisfatórios (i.e., 300 não é divisível por 40). Logo, os proponentes de uma data mais recente para o êxodo são forçados a utilizar novos métodos de cálculo. Tipicamente eles postulam a conquista em duas etapas, afirmando que Jefté não se referia à conquista israelita como uma confederação das 12 tribos, mas a uma anterior, uma ocupação “pré-êxodo” da Transjordânia por uma tribo, ou tribos, que somente mais tarde associou- se àquelas poucas tribos de Israel que possuíam a tradição do êxodo.
A conquista da Transjordânia, segundo esta recriação da história do Antigo Testamento, precedeu a conquista de Canaã por mais ou menos um século. Além disso, Jefté inequivocamente referia-se aos conquistadores de Seom como os israelitas que tinham saído do Egito (Jz 11.13,16). Portanto, a menos que se desconsidere a própria evidência interna, a data de 1446 para o êxodo permanece de pé.
Além dos dados cronológicos bastante específicos, o Antigo Testamento fornece uma descrição suficiente do êxodo e seu período antecedente, confirmando uma data mais antiga para o evento. Já foi exposto que a história de Moisés melhor se adapta às datas e circunstâncias da 18a Dinastia do Egito. Se aceitarmos a data mais recente para o êxodo, a qual sempre está associada a Ramsés II, será preciso desconsiderar todo o testemunho bíblico. Moisés não voltou ao Egito até que aquele faraó – que antes tentou tirar-lhe a vida – estivesse morto. O retorno de Moisés da terra de Midiã foi postergado por aproximadamente 40 anos; logo, o rei em questão deve ser alguém que reinou, no mínimo, por este período de tempo.
Na 19ª Dinastia, somente Ramsés II – que reinou de 1304 a 1236 – satisfaz este requisito, porém ele não pode ser o faraó do êxodo, porque este foi sucessor de um outro que havia tido um reinado de longa duração.
A data mais recente exige que Merneptah (1236 – 1223) tenha sido o rei durante a humilhação no êxodo. Porém, ainda que tal evento tivesse ocorrido em seu primeiro ano como faraó, a jornada de 40 anos no deserto dataria o início da conquista em 1196.
Os juizes de Israel devem então ser reunidos no período desde o início de sua administração (cerca de 40 anos após do início da conquista – 1156) até a morte de Sansão, o último juiz (com exceção de Samuel, que viveu também sob a monarquia), por volta de 1084. Nenhuma manipulação das evidências consegue espremer os longos anos do governo dos juizes em 70 ou 100 anos. Além disso, o próprio Merneptah liderou uma campanha em Canaã no seu quinto ano (1231), durante a qual ele afirmou ter encontrado e vencido Israel.
Obviamente é impossível que Israel, num espaço de apenas cinco anos, tivesse escapado do Egito, parado no monte Sinai, peregrinado no deserto, conquistado Seom e Ogue, entrado em Canaã e, finalmente, por lá ter se estabelecido. Os que advogam uma data mais recente precisam desconsiderar todo método historiográfico, e reinterpretar o único documento genuíno – o Antigo Testamento.

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